A pauta
Maio de 2017. Após serem aprovadas pelo Congresso, duas Medidas Provisórias (756/2016 e 758/2016) que tratavam da alteração de limites de áreas de conservação na Amazônia estavam diante do então presidente Michel Temer aguardando sanção. Se essas medidas fossem aprovadas, haveria redução de quase 600 mil hectares de florestas protegidas, o equivalente a quatro vezes o município de São Paulo, ou o território do Distrito Federal.
A ação – parte 1
Naquele mesmo mesmo mês, a organização World Wide Fund for Nature (WWF) iniciou uma campanha contra a proposta, incluindo a criação de uma petição pública e realização de atos em frente ao Congresso. Todas as iniciativas da organização eram comunicadas intensivamente por meio da imprensa. A sociedade foi alcançada e grandes personalidades se manifestaram nas redes sociais em apoio ao WWF e à preservação da Amazônia, como Leonardo diCaprio e Gisele Bündchen. Diante de quase 500 notícias publicadas em cerca de 30 dias, o Governo recuou e, em 19 de junho, vetou as MPs, mas manteve a questão ainda em aberto.
A ação – parte 2
Julho de 2017. Para conter uma manobra de Temer, que pretendia liberar áreas de conservação em troca do apoio de congressistas ligados ao agronegócio, o WWF elaborou um relatório detalhado sobre os impactos socioambientais que a abertura da reserva poderia causar na região. A divulgação do estudo foi trabalhada junto à grande imprensa visando alcance, e veículos como O Estado de S.Paulo, O Globo, Veja, Época e TV Globo, através dos noticiários Jornal Nacional e Bom Dia Brasil, veicularam matérias contendo o posicionamento da organização. O Governo esperou a ‘poeira baixar’ e, em agosto, realizou nova investida, publicando no Diário Oficial da União um decreto extinguindo a Reserva Nacional de Cobre e Associadas (Renca), uma área de 47 mil quilômetros quadrados entre o Pará e o Amapá – o equivalente ao tamanho do estado do Espírito Santo. Novamente a imprensa foi usada para comunicar o fato (até então oculto) à sociedade e a repercussão foi estrondosa, com mais de 450 notícias publicadas nos maiores veículos e em diversos noticiários da TV Globo, GloboNews, Record, SBT, CNN internacional e Al Jazeera. Diante da repercussão negativa, o governo suspendeu o decreto mas, uma semana depois, editou um novo, com mais detalhes sobre os cuidados que deveriam ser tomados nas eventuais atividades mineradoras. No entanto, o texto mantinha a extinção da Renca.
A ação – parte 3
Para dar fim ao caso, convocamos para o dia 30 de agosto uma coletiva de imprensa, que contou com a participação de mais de 30 veículos, incluindo os principais periódicos brasileiros (Folha de S.Paulo, Veja, Exame e Carta Capital), grandes portais (UOL, G1 e R7), emissoras de TV (Globo, GloboNews, Record, Cultura, Bandnews), agências internacionais (EFE e AFP), além de veículos de nicho (Observatório do Clima, Ciclo Vivo e a Scientific American). Em pauta, o lançamento de um relatório exclusivo do WWF sobre a descoberta de 381 novas espécies na Amazônia, que poderiam ser colocadas em risco se áreas de conservação fossem concedidas para exploração. Além de contar com uma entrada ao vivo da Globo News, o estudo foi publicado, naquele mesmo dia, em praticamente todos os grandes veículos brasileiros e também foi destaque, em horário nobre, nos principais telejornais, incluindo o Jornal Nacional.
O resultado
Ao longo de quatro meses de mobilização da opinião pública por meio da imprensa, foram publicadas mais de 2,3 mil notícias contendo o posicionamento da organização sobre o tema. A campanha cresceu e influenciadores, artistas e ativistas se uniram a favor da preservação da reserva. Abaixo-assinados foram criados e até mesmo ações foram impetradas na justiça. Diante do amplo posicionamento contrário da sociedade, conquistado através de um trabalho estratégico de comunicação, Michel Temer se viu obrigado a recuar. No dia seguinte à divulgação do relatório, o governo anunciou a revogação do decreto e prometeu abrir debate com a sociedade.
